sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

RECORDE EM LEILÕES EM 2009


Ao término de todas as grandes vendas em leiloes de 2009, o desenho em pastel “Head of a Muse”, de Raphael, destacou-se por alcançar o maior valor em lote único do ano. O desenho de 1511 foi vendido este mês na Christie's de Londres por US$ 47,5 milhões. A venda superou o recorde anterior de US$ 45,6 milhoes de um Matisse, que fazia parte da coleção de Yves Saint Laurent.

Entre os modernos, Andy Warhol alcançou o topo com a obra “200 One Dollar Bills”, de 1962, vendido por US$ 43,8 milhoes em novembro, mais de três vezes mais do que o valor pré-estimado de US$ 12 milhoes e mais de cem vezes mais do que o valor pago pelo proprietário original em 1986.

Notícia extraída do site www.bloomberg.com

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

NO MUNDO DAS ARTES, DOAR AINDA É UM PROBLEMA

Matéria de Camila Molina originalmente publicada no Caderno 2 do jornal O Estado de S. Paulo em 3 de dezembro de 2009.

Autoridades no assunto discutem os impasses na hora de renovar acervos

No ano passado, o Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP renovou seu acervo com um conjunto de 40 obras do fotógrafo mexicano Pedro Meyer, pioneiro da fotografia digital há quase 30 anos. Para adquirir as obras, pagou uma taxa simbólica de US$ 1 mil e ainda contou com patrocínio de uma empresa de impressão de imagens. Criou-se, até mesmo, certo problema na alfândega quando as dezenas de peças chegaram ao Brasil "compradas" por um preço tão baixo. Na verdade, tudo não passou de uma estratégia conjunta entre o MAC e o artista para que as imagens, enfim, ajudassem a preencher a lacuna de fotografias contemporâneas do museu - os recursos eram para despesas de transporte, como diz a vice-diretora da instituição, Helouise Costa. "Da década de 1980 até hoje, quando a USP decidiu não mais dar verba para aquisição, apenas para manutenção, o MAC depende de doações."

Se alguém pensa que é fácil doar e receber obras de arte, o exemplo acima mostra que não é bem assim. No Brasil, este não é um problema específico apenas de um museu. Como as regras e as políticas de aquisição de obras para instituições ainda se firmam no País, os museus, sem verba para a compra de peças artísticas, têm de esperar a boa vontade de colecionadores ou dos próprios artistas que querem doar suas obras.

"Em termos genéricos, política de aquisição existe, mas é uma complicação", diz o curador-chefe do Museu de Arte de São Paulo (Masp), Teixeira Coelho. Respeitando a vontade de anonimato de um colecionador, ele cita um exemplo recente vivido pela instituição: um colecionador queria ceder ao Masp a obra de um artista moderno estrangeiro, comprada no exterior, mas os impostos cobrados pela Receita Federal não faziam valer sua boa vontade. "Ou se concorda em isentar as doações de tantos impostos ou o museu tem de arcar com os impostos e, nesse caminho, quase sempre o doador desiste", diz Teixeira Coelho, que defende uma "ação concertada" entre os ministérios da Cultura e da Fazenda. "Todo mundo quer cultura, mas não quer pagar por ela", continua o curador, ainda emendando que há outro entrave: como hoje as obras de muitos artistas brasileiros se equiparam às de estrangeiros - uma peça do escultor Sérgio Camargo (1930-1990) de 1964 foi vendida recentemente em Nova York em leilão da Sotheby"s por US$ 1.594.500 -, "as pessoas pensam mil vezes antes de doar uma obra".

Hoje pela manhã, ocorre no Museu de Arte Moderna do Rio uma reunião solicitada pelo ministro da Cultura, Juca Ferreira, com diretores de instituições nacionais e representantes do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) justamente tendo como tema a política de aquisição de acervos. Trata-se de uma continuidade de discussões sobre a questão, alavancada, ainda, pelo episódio do incêndio de obras de Hélio Oiticica (1937-1980) e de seu pai, o fotógrafo José Oiticica Filho (1906-1964), ocorrido em outubro, na casa da família dos criadores, no Rio - as peças deveriam estar em uma instituição, mas como familiares podem ceder as criações aos aparatos museológicos? "Desde 2003 há um edital do Ministério da Cultura de modernização de museus, que permite aquisição de obras, mas poucas instituições usam porque, primeiro, necessitam da qualificação das reservas técnicas. Nossa intenção é que tenhamos um edital específico de R$ 10 milhões para aquisição de acervo, via Petrobrás ou ministério", diz José do Nascimento Jr., do Ibram.

Outras propostas de estímulo à doação/cessão são a de lei do deputado Angelo Vanhoni (PT-PR) de dedução de 6% do Imposto de Renda do valor de obras de arte doadas (leia ao lado) e o anteprojeto de Michel Etlin (Associação Nacional das Entidades Culturais Não-Lucrativas) também de incentivo fiscal para patrimônio de herança - e pode-se citar ainda os editais da Caixa Econômica Federal e da Funarte, ambos da esfera federal. "Governos estaduais e municipais também têm de adquirir", diz Nascimento.

Apesar de as instituições terem seus conselhos consultivos para decidir se a obra tem relevância para entrar no acervo do museu - e "a maioria não é aceita, é um ônus para a instituição", como diz Helouise Costa -, a doação é a principal fonte de aquisição. Mas esta é uma época diferente das décadas de 1940 e 50, quando figuras como Ciccillo Matarazzo e Assis Chateaubriand doaram suas coleções preciosas para criação do MAC e Masp. Já houve casos notáveis, como o da tela Banhista Enxugando o Braço Direito, de Renoir, que foi cedida em 1948 ao Masp por uma lista de nada menos do que 26 doadores. Era a sociedade se mobilizando em nome da arte.

Dois Mecanismos:

DOAÇÃO: Obras doadas por artistas ou por terceiros têm sido o principal mecanismo de entrada de peças nos acervos dos museus, já que não há verbas específicas nas instituições para compra de obras. Mesmo assim, como diz Teixeira Coelho, as doações "existem a conta-gotas", grande parte delas, de obras sobre papel, que têm preços reduzidos. Para colecionadores, um entrave criado são os impostos cobrados pela Receita Federal.

LEI ROUANET: O uso de patrocínio por meio da lei de incentivo ainda é pouco utilizado pelas instituições, dado, entre um dos motivos, pelas exigências do Ministério da Cultura para a aprovação dos projetos de aquisição. "Nem sempre as instituições têm claro o que querem", diz José do Nascimento Júnior, do Ibram. O MAC, por exemplo, teve seus projetos recusados, mas o MAM e a Pinacoteca vêm tendo uma entrada razoável de obras em suas coleções por meio de patrocínio de empresas - o caso de maior vulto ocorreu no ano passado, quando as duas instituições receberam R$ 2 milhões do banco Credit Suisse para compra de obras. Parcerias de instituições com as feiras SP Arte e Pinta/NY têm sido também fonte.

Destaques De Aquisições Recentes:

MAM- SP: Em 2009 entraram para o acervo da instituição75 obras, entre doações feitas por artistas, por terceiros, por intermédio dos Clubes de Colecionadores de Fotografia e de Gravura do museu e por patrocínio de empresas. Entre as aquisições, estão obra da década de 1950 da pintora concretista Judith Lauand, a única mulher que participou do Grupo Ruptura; a instalação Pic Nic (2000), de Marco Paulo Rolla; duas gravuras de Arthur Luiz Piza de 2009 e uma de Mira Schendel, de 1975; as cadeiras Harumaki, Golfinhos e Tubarões e Cone, dos irmãos-designers Fernando e Humberto Campana; um conjunto de cinco trabalhos realizados entre 1968 e 1975 por Antonio Manuel - Clero Define Situação, Sem Repressão Há Ordem; Contra Repressão, Guerra do Consumo/Vampiro Insaciável e Povo; além de obras fotográficas de Adriana Varejão e gráficas de Albano Afonso e grande núcleo de 24 peças de Luiz Guardia Neto, a maioria delas, da década de 1970. O MAM já teve aprovado pelo Ministério da Cultura seu plano de aquisição para 2010, no qual as telas Dados (R$ 250 mil) e Andamento I (R$ 750 mil), ambas da série dos Carretéis, de Iberê Camargo - segundo Felipe Chaimovich, não há obra do pintor no acervo do museu.

MASP: Fazendo uma comparação entre a arrancada de doações que o museu recebeu em sua implantação, movimento ocorrido principalmente até o fim da década de 1950, o Masp teve um declínio grande de entrada de obras em seu acervo, amplo, diga-se de passagem (tem cerca de 7 mil obras). Em 2009 entraram para a coleção da instituição apenas seis (!) peças: dois trabalhos sobre papel e um óleo sobre tela de Niobe Xandó, uma armadura do século 19; uma tela de Nelson Screnci - Metamorfose de Excluídos; e Natureza Morta com Relógio, óleo e têmpera sobre tela e madeira de Leo Contini. Todas as obras foram doadas. Mas vale citar como obras adquiridas recentemente o desenho Cavaleiro (1940), de Salvador Dalì - no ano passado; a tela Cena Mitológica (1498), atribuído a Guercino - em 2006; e a instalação Apartamento, de Regina Silveira - doada pela artista em 2007.

PINACOTECA: EM 2009, o museu teve 66 obras adquiridas, sendo 15 pela doação do Credit Suisse (trabalhos de Daniel Senise, Rosangela Rennó, Beatriz Milhazes, Valeska Soares, Carmela Gross, Efrain Almeida, Carlos Zilio, Ivan Serpa, Marepe e Caetano de Almeida; 49 com articulação de verba do Governo do Estado de São Paulo - entre elas, conjunto de gravuras de Fayga Ostrower e Anna Letycia; 1 pintura, Casario (1946), de Iberê Camargo, doação Associação dos Amigos da Pinacoteca; e 1 escultura em madeira de Amilcar de Castro, por meio de edital da Funarte.

MAC-USP: A instituição teve 20 obras doadas incorporadas em seu acervo este ano: três do artista Alex Flemming; a instalação Árvore do Desejo, de Yoko Ono; sete gravuras de Renina Katz, realizadas pela gravadora entre 2002 e 2003; e nove serigrafias e litografia de Claudio Tozzi, dos anos 1970 e 1990.

Projeto de lei

Foi aprovado no dia 4 de novembro um projeto de lei que abre a possibilidade de os doadores de obras de arte deduzirem de seu Imposto de Renda até 6 % do valor da doação. Quem aprovou foi a Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados e o projeto (número 2764/08) é de autoria do deputado federal Angelo Vanhoni (PT-PR). Haverá uma restrição: para acionar o desconto no IR, essas obras devem ser cedidas a instituições que façam parte do Sistema Brasileiro de Museus. O projeto deve ainda passar pela Comissão de Finanças e Comissão de Justiça, processo que Vanhoni acredita ocorrer até no máximo no primeiro semestre de 2010.

"Isso dá um estímulo tanto para quem é pessoa jurídica quanto física. Às vezes, na casa de alguém tem um quadro ou uma obra, mas essa pessoa é herdeira e nem tem relação ou aprecia aquele trabalho que deveria estar melhor cuidado em acervo público", diz o deputado. O valor de 6%, segundo Vanhoni, se deu diminuindo pela metade a média das alíquotas de IR que variam entre 15% e 25%. "Senão a área de finanças e arrecadação do governo não aceitaria a proposta."

O estímulo foi visto como positivo para a maioria dos entrevistados pelo Estado, mas Emanoel Araújo, do Museu Afro Brasil, acredita que seja pouco. "Deveria ser de 50%."

DIRETORES DE MUSEUS DESABAFAM

Matéria de Roberta Pennafort originalmente publicada no Caderno 2 do jornal O Estado de S. Paulo em 4 de dezembro de 2009.


Reunião ontem com o ministro Juca Ferreira, para discutir renovação de acervos, virou um fórum repetitivo de reclamações

A criação de um fundo permanente para a manutenção de museus, o investimento em aquisição de acervo e a possibilidade de instalação de centros de reserva técnica pelo País foram os pontos principais tratados no encontro que o ministro da Cultura, Juca Ferreira, e o diretor do Instituto Brasileiro de Museus, José do Nascimento Junior, tiveram ontem, no Museu de Arte Moderna, no Rio, com cerca de 40 representantes de instituições, artistas e curadores. O foco inicial era a compra de acervos, mas, diante da complexidade dos problemas por que passam os museus brasileiros, de vazamentos de água em seus prédios à falta de público (menos de 10%da população brasileira já foi a um museu pelo menos uma vez na vida), a reunião, que durou três horas, acabou tocando em outros temas que preocupam a todos os envolvidos no setor.

Não são questões novas, como colocaram artistas e curadores, e conforme reconheceu o ministro. "Sempre surge uma sensação de dèja vu. Um golpe de mão seria mais rápido, mas não teria legitimidade", disse Ferreira, ao citar outras reuniões em que se discutiram os mesmos problemas e se fizeram propostas semelhantes para resolvê-los. O ministro, que anotou o que foi falado, assim como Nascimento, disse que espera ter um documento com as diretrizes para a criação de um fundo para os museus, que entraria no escopo da nova Lei Rouanet, até "março, abril ou maio" do ano que vem. A ideia é que se envie ao Congresso antes das eleições, de modo a garantir sua sobrevida. Tudo vai depender do orçamento do Ministério - Ferreira espera a confirmação do aumento para 1% do orçamento federal até o fim deste ano (hoje é de 0,6%, sendo que o sonho é se chegar a 2%; o entrave é que "a área econômica continua pensando a cultura como gasto, não como investimento", ele lamentou).

Dois pontos cruciais que marcaram as intervenções foram a preservação e a visibilidade da arte no Brasil. Uma proposta interessante defendida tanto pelo curador Marcio Doctors quanto pelo artista plástico Carlos Vergara é a criação de reservas técnicas que guardem obras que não pertençam efetivamente a museu algum, mas que possam ser disponibilizadas para públicos de várias cidades.

"Tenho dúvidas com relação ao modelo atual de museu. Neste momento, deveríamos pensar muito mais em um esquema de reservas técnicas abertas que contemplem um pensamento em rede, onde seria desaguada a produção atual e que tenham condições mínimas de preservação", sugeriu Doctors. "Deveria haver um acervo nacional de arte contemporânea em Brasília. Eu não estou falando de um museu do Niemeyer, mas um galpão mesmo", disse Vergara. Ele também defendeu que o governo subsidie o acesso aos museus, lembrando que sua exposição, no MAM do Rio, custa R$ 8.

Ferreira disse que queria ter feito a reunião há um ano e meio, mas desistiu da intenção inicial, de promover uma conversa conjunta também com galeristas, marchands, artistas e museus públicos e privados, porque percebeu que seria muito difícil chegar a qualquer consenso. O incêndio que, em outubro, destruiu parte da obra de Hélio Oiticica, guardada por sua família no Rio, antecipou o encontro. Ele ressaltou a necessidade de se trabalhar junto com o Ministério da Educação para qualificar os quadros técnicos dos museus, encorpando-os "conceitualmente". Concordou, em vários momentos, que é preciso avançar muito.

"A situação brasileira é muito precária. Não há um sistema que de fato dê conta dessa complexidade, mesmo dentro dos aspectos mais elementares, como a preservação física dos acervos. Não adianta a gente se mobilizar, num espasmo de consciência, quando acontece um acidente", disse. Ferreira anunciou que o orçamento do Ibram, instituído no início deste ano, crescerá em 2010 de R$ 45 milhões para R$ 70 milhões.

À tarde, o ministro anunciou o lançamento de dez editais junto com a Petrobras, no valor de R$ 29,3 milhões, a serem investidos em projetos de artes visuais, restauro de filmes e design, entre outras áreas. Os recursos serão disponibilizados graças aos lucros altos obtidos pela empresa.


segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

KUSHO - ESCREVER NO CÉU UMA ARTE POUCO CONHECIDA




Kusho é uma palavra japonesa que significa literalmente "escrever no céu". Melhor: enquanto que ku quer dizer céu, a palavra sho designa tanto caligrafia, como escrita e manuscrito. O significado final da palavra fica a cargo da interpretação de cada leitor. No entanto, kusho é também o nome da nova série de fotografias do japonês Shinini Maruyama a que o autor atribui uma forte carga filosófica.

Sendo um fotógrafo multifacetado, Maruyama já trabalhou em diversos campos, tendo-se dedicado à captura de paisagens pitorescas do mundo japonês no início da carreira. Trabalhou em publicidade na Hakuhodo Photo Creative e mais tarde publicou dois livros que reportavam a vida quotidiana tibetana e a sua cultura. Há cinco anos interessou-se pelas técnicas e características formais da Fotografia. É neste quadro que surge a colecção "Kusho".


À primeira vista as fotografias deste trabalho podem parecer sem sentido ou com pouca criatividade. Contudo as 23 imagens das séries Kusho têm subjacente um forte conceito que o autor explica.

Representando a interacção entre tinta preta e água em superfícies brancas ou no ar, Maruyama capta imagens irrepetíveis: os milésimos de segundo exactos antes dos dois líquidos se fundirem em cinzento, que permitem ver em detalhe os processos físicos e químicos invisíveis a olho nu. O timing perfeito na captura das imagens é conseguido através de avanços recentes na tecnologia da luz estroboscópica: há fotografias que têm uma velocidade de obturação de 1/20 000 de segundo.

Jogando com o aleatório, o conceito japonês wabi-sabi está por detrás da ideia desta sessão fotográfica, significando a beleza das coisas imperfeitas, efémeras e incompletas. A própria escolha da palavra foi cuidadosa. Enquanto que ku explora o abstracto e nos leva para o campo ideal da representação como forma de ausência radical, o sufixo sho alude à escrita, porque a fotografia é também expressiva e comunica sempre qualquer coisa. Nas palavras do autor, mais que um espelho com memória este meio pode ser uma experiência conceptual, abstracta e espiritual.