terça-feira, 11 de agosto de 2009

FERNANDO FEIERABEND E A ESTRUTURA DA COR

Alberto Beuttenmüller- abca- SP.

Os fenômenos visuais são os mais numerosos e complexos em nossas vidas e o papel da cor na comunicação visual artística é de considerável importância. Algumas vezes a cor tem sido o único conteúdo de considerável importância em uma obra de arte. Este é o caso do pintor Fernando Feieraband que, apesar do sobrenome alemão, é paulista e vive em São Paulo, sendo uma das novas revelações da atual pintura abstrata paulista. Lembro-me do texto do catálogo da exposição The Structure of Color, de Márcia Tucker, na exposição de mesmo nome no Whitney Museum of American Art, Nova Iorque, 1971.
Para analisar a cor – cerne da obra de Feieraband – é preciso fazer certas considerações. Isso porque a cor afeta os olhos e o coração tanto física quanto metaforicamente, de modo mais direto do que qualquer outro elemento pictórico. Nos seus aspectos místico e poético, a cor pode oscilar entre a envolvente e palpitante sensação de calor, como nos vermelhos de Feieraband; e a fria e revigorante sensação de luz e espaço, como nos azuis profundos deste artista, quase sempre a dominar a composição. É quase impossível definir a cor. Percebe-se, sente-se, são sensações que reagimos sempre individualmente. A cor foi sistematizada e codificada por vários teóricos, desde o fim do século XVIII ao começo do XIX (entre os quais Newton, Rood, Chevreul, Munsell, Oswald e Goethe), mas o seu correto uso teórico não assegura a gênese de uma pintura.
Na pintura de Feieraband nota-se o empenho do pintor em nos proporcionar tais sensações a partir de elementos orgânicos, certas formas fechadas, que nos lembram de cristais ou meteoritos, em meio a uma intensa expressividade de cores, construídas com rigor, numa autêntica arquitetura de formas e cor. Entre a expressividade da pincelada, seja no uso de óleo sobre tela seja no uso de tinta acrílica, ou até em ambas, quando o artista as mistura para causar efeitos de luz/cor, há por trás uma ordem que transparece na sua linguagem. A obra de Fernando Feieraband é rara demonstração dos embates existentes dentro da Linguagem.
Sabemos que a linguagem é formada por dois elementos: o sistema de elementos, conceitos, relações, princípios, que podemos chamar de gramática; e pela expressão. Há dentro da linguagem uma luta dialética entre o sistema e a expressão; ou seja, quanto maior o rigor, menos expressão. Se o rigor prepondera, a linguagem pictórica se fecha, se empobrece, torna-se acadêmica.
No caso de Fernando Feieraband, a linguagem é expressiva, graças às sensações de cor e luz que a obra perfaz, o rigor construtivo de algumas telas está por trás da expressão só para que a superfície pintada não se torne caótica. Sua pintura é de cunho poético e tem na cor a sua prioridade, tornando sua pintura expressiva, mas sem perder o rigor jamais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário